Neste mês de abril, os aprovados no XIV Concurso Público de Provas e Títulos para ingresso no Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul comemoram 20 anos na Instituição. Muitas lembranças, dificuldades, vitórias e aprendizado norteiam as lembranças dos Promotores de Justiça que, à época, não diferente do que almejam hoje, queriam contribuir por uma sociedade melhor e mais justa.

Na lista dos aprovados que tomaram posse, em 04 de abril de 1997, estão os Promotores de Justiça Ana Lara Camargo de Castro, Cristiane Barreto Nogueira Riskallah, Emy Louise Souza de Almeida Albertini, Luiz Eduardo Lemos de Almeida, Silvio Amaral Nogueira de Lima, Jose Antônio Alencar e Plínio Alessi Junior.

A Promotora de Justiça e Assessora Especial Ana Lara Camargo de Castro disse que escolheu a carreira muito cedo, ainda na faculdade, inspirada pelos ventos democráticos trazidos pela Constituição Federal de 1988. “Talvez os Promotores mais jovens não tenham ideia, mas como era extraordinário naquele tempo fazer parte de uma Instituição que, pela força da nova Constituição, seria a voz da sociedade”, ressalta. A Promotora admite “a frustração muitas vezes bate pesado porque o sistema público brasileiro é máquina de moer sonhos”. Mas ela mesmo assim é incansável e grata ao Ministério Público. “Sou grata ao MP, parte indissociável de mim, por meio dele renovei incansavelmente a coragem e a fé, expandi a inteligência e me tornei uma pessoa mais sensível às dores humanas”, comemorou.

O Promotor de Justiça Sílvio Amaral Nogueira de Lima se recorda das dificuldades que enfrentou ao ingressar na Instituição. “Quando do ingresso na Instituição não havia estagiários, assessores ou técnicos. Também não existiam sedes próprias. As acomodações eram realizadas nas pequenas salas cedidas pelo Poder Judiciário, cujos prédios, que, por sua vez, via de regra, pertenciam ao município. As despesas com materiais de consumo eram realizadas pelos Promotores, para limpeza do gabinete, inclusive com pagamento de diarista, quando os gabinetes não eram localizados no interior dos Fóruns”, explicou. Sobre o que mudou no Ministério Público Estadual ao longo destes 20 anos, o Promotor disse que é evidente o crescimento da Instituição neste período. “Basta verificar a estrutura atual das Promotorias de Justiça, principalmente do interior do Estado”, enfatizou.


Ao recordar fatos marcantes nestes 20 anos de Ministério Público Estadual, o Promotor Sílvio Amaral narrou uma história que aconteceu quando estava na Comarca de Iguatemi (MS). “Era uma sexta-feira e eu me encontrava no gabinete, sendo que por haver muito serviço ali permaneci até por volta das 21h. Eu morava muito próximo ao Fórum, cerca de 400m. O então Juiz de Direito daquela comarca, Vitor Luis de Oliveira Guibo, também permaneceu trabalhando até aquelas horas. O Dr. Vitor Luis já havia trabalhado comigo como servidor do Tribunal de Justiça deste Estado. Naquela ocasião, deixamos o Fórum de Iguatemi juntos e trancamos os respectivos gabinetes e também a porta principal do prédio. Ao retornarmos na segunda-feira, o Dr. Vitor Luis se dirigiu até o seu gabinete e teve uma surpresa ao perceber, logo após destrancar as portas, que as paredes do local, até uma altura de aproximadamente meio metro, encontravam-se pontilhados de um líquido vermelho com aspecto de sangue. Ele me chamou até o gabinete para constatar a situação. Naquela ocasião, eu logo imaginei que, pelo aspecto da substância, poderia se tratar de sangue e fiquei surpreso com a situação, até porque, como de costume, nós havíamos trancado todas as portas do prédio e o local não apresentava sinais de arrombamento. Ainda surpreso com a situação, dirigi-me até a sala da Promotoria no Fórum e, ao abrir a porta, qual não foi o meu espanto ao perceber que ali, também, da mesma forma, havia os mesmos pontilhados de substância semelhante a sangue, nas quatro paredes. Nesta ocasião, chamei o Dr. Vitor e mostrei a ele a situação do meu gabinete. Ficamos sem entender o que havia acontecido, tendo até mesmo zombado da situação. No entanto, resolvemos convidar um médico perito da Comarca para que ali comparecesse, a fim de coletar o material encontrado nos gabinetes e verificar a natureza da substância, já que havia forte desconfiança de que poderia se tratar de sangue. E foi esta exatamente a conclusão do médico, que só não pode determinar se o sangue analisado era proveniente do ser humano ou de animal. O fato foi colocado em segundo plano e continuamos nossas atividades na Comarca, sem qualquer espécie de preocupação mais aprofundada, tanto que em algumas ocasiões íamos até o Fórum a pé e retornávamos tarde da noite da mesma forma, embora permanecesse a dúvida dos motivos e como aquilo teria ocorrido. Passados aproximadamente 19 anos do episódio, já em 2016, narrei à Promotora Ana Lara, que, ao ouvir atentamente a história, sem titubear, acabou por concluir da seguinte maneira: "Sílvio, que loucura! Vocês foram ameaçados!". Foi só então que eu tomei completa ciência da real mensagem que poderia ter sido passada naquela ocasião, tendo inclusive dito à Dra. Ana Lara que minhas pernas chegaram a bambear, e como ninguém teria me avisado isso antes? Graças ao bom Deus, nada de mais aconteceu.  Essa foi uma das passagens, dentre várias outras, que me aconteceram nestes 20 anos de Ministério Público e que eu gostaria de compartilhar neste momento”, finalizou.

As dificuldades encontradas ao assumir a Comarca de Deodápolis (MS) também marcaram as lembranças do Promotor de Justiça Jose Antonio Alencar. “Lembro que quando cheguei na minha primeira Comarca, Deodápolis, precisei equipar minha sala de trabalho com divisória, mesas, computador, tudo por minha conta. Em Costa Rica (MS), minha segunda Comarca, trabalhei durante toda a minha passagem por lá sozinho. Ficava na fila dos Correios para enviar correspondência à Procuradoria-Geral de Justiça”, recorda. Para o Promotor de Justiça o ingresso no MPMS mudou a sua vida e da sua família em todos os aspectos. “Sou muito grato a Deus por ter me dado a oportunidade de passar no concurso e ser membro do MPMS. Sou muito feliz com o trabalho que tenho”, comemorou.

Texto: Ana Paula Leite/jornalista Assecom MPMS

Foto: Arquivos