Nesta quinta-feira (13/12) foi a vez do Fórum Heitor Medeiros receber a 9ª Feira do “Artesão Live – Edição Natal” em Campo Grande. A iniciativa é promovida por meio de uma parceria entre o Ministério Público de Mato Grosso do Sul, representado pela 50ª Promotoria de Justiça, Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), Poder Judiciário e o Conselho da Comunidade de Campo Grande.

A exposição que acontece até sexta-feira (14/12) reúne peças que são produzidas pelos detentos do regime interno sul-mato-grossense, e estão disponíveis, até às 18h.

Estão expostas cerca de 800 peças, entre tapetes, esculturas, enfeites, quadros arte com recicláveis, entre outros.

Na abertura oficial do evento, a Promotora de Justiça Renata Goya agradeceu a parceria da Agepen, do Poder Judiciário, do Conselho da Comunidade e das Promotoras de Justiça Paula da Silva Volpe e Regina Dornte Broch que atuam na Vara de Execução Penal, por todo trabalho e dedicação voltado à realização da feira. “A realização da feria é sempre o ponto alto de um trabalho conduzido diuturnamente. Mas eu sei que com muito pouco vocês fazem muito e este trabalho está transformando vidas”, comemorou.

A Promotora de Justiça e Presidente do Conselho da Comunidade Regina Dornte Broch ressaltou que todo trabalho feito dentro do Sistema Penitenciário é uma possibilidade de mostrar que o detento tem recuperação. “Junto ao Conselho da Comunidade nossa maior proposta é essa, oportunizar trabalho aos detentos, para que eles tenham uma formação e quando saírem, que possam reconstruir suas vidas”, enfatizou.

Durante a solenidade de abertura, houve apresentação de um grupo musical formado por presos do regime fechado: a Banda Ressocializandos, que integra um projeto de ressocialização através da música, desenvolvido no presídio. A feira contou também com o depoimento do ex-custodiado do Presídio de Trânsito (PTRAN), Everton Quinhones Ribeiro, que atualmente é monitorado por tornozeleira, e que emocionou a todos os presentes, ao revelar que encontrou no talento para o artesanato, e na oportunidade dada quando ainda estava na unidade penal, a certeza de querer construir um caminho diferente.

"No presídio, percebi que a arte pode transformar uma pessoa, a cada elogio que recebia, a cada peça que vendia”, declarou. “Hoje sou conhecido como Mutuca Artes, mutuca é um apelido de infância e artes porque eu desenvolvo muitas artes, faço tatuagem, grafite aerografia, customização, móveis rústicos e artesanato hippie, entre outros”, disse.

O artesão destacou que, já na rua, venceu um campeonato de aerografia em carro. “Quando saí do presídio falei para os que ficaram que eles iriam me ver na televisão, mas não nos programas policiais, e sim pelo reconhecimento da minha arte. Agora estou aqui segurando este troféu, que é uma pequena demonstração do que sou capaz, estou construindo meu nome, e ainda tenho muito a conquistar”, disse, arrancando aplausos da plateia.

Conforme Everton, sua meta é multiplicar  o que sabe ensinando crianças, para que elas não cometam o mesmo erro que ele de entrar para a criminalidade. “Vou usar este talento para, no início de 2019, ensinar minha arte na Associação Ribeiro de Karatê, na Vila Nogueira”, informou.

Outra novidade da feira é a exposição de telas pintadas por custodiados que recebem tratamento psiquiátrico. As criações fazem parte de um projeto de Arteterapia desenvolvido pelo Módulo de Saúde do Complexo Penitenciário do Jardim Noroeste.

Todas as peças foram confeccionadas por detentos do Instituto Penal de Campo Grande, Presídio de Segurança Máxima, Centro de Triagem, Presídio de Trânsito, Estabelecimento Penal Feminino “Irmã Irma Zorzi” e Estabelecimento Penal Feminino de Regimes Semiaberto e Aberto de Campo Grande.

A iniciativa tem como objetivo apresentar à sociedade os trabalhos laborais desenvolvidos pelos detentos e todo o dinheiro arrecadado na venda dos produtos artesanais é revertido ao custodiado e à família.

Texto e fotos: Ana Paula Leite/jornalista Assecom