Nem flores, tampouco chocolate. Um “parabéns” somente se for para reconhecer as batalhas que as mulheres travam diariamente para conseguir sobreviver em uma sociedade que precisa evoluir muito para se tornar suficientemente saudável, segura e justa para todas as mulheres, pois não é fácil viver em um País em que a cada 7 horas, uma mulher é vitima de Feminicídio.

No dia 8 de março, o mundo inteiro para por um momento para refletir o quanto a luta das mulheres por direitos e oportunidades igualitárias é histórica, e o quanto ainda falta para mudar essa realidade que, ano após ano, vitimiza, de várias formas, milhares de mulheres pelo mundo todo.

Porém, essa luta pode ser mais fácil se os homens reconhecerem que são parte decisiva e essencial no processo de equidade de gênero. Em tempo, cabe destacar a diferença entre igualdade e equidade. De acordo com o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, igualdade significa: 1. Qualidade de igual/2. Relação entre coisas ou pessoas iguais/3. Correspondência perfeita entre as partes de um todo/4. Organização social em que não há privilégios de classes/5. Equação. Já equidade tem a ver com: 1. Igualdade/2. Retidão na maneira de agir. = IMPARCIALIDADE/3. Reconhecimento dos direitos de cada um/4. Justiça reta e natural.

Para a antropóloga Debora Diniz, o lugar dos homens na luta pela equidade é decisivo e essencial para que ela de fato aconteça. “Cabe aos homens manter permanentemente a voz sobre a igualdade de gênero ao lado das mulheres, porque elas não vão reescrever sozinhas as normas naturalizadas de desigualdade. É um lugar de atenção e combate aos privilégios do patriarcado e de todas as marcas indevidas da masculinidade e do machismo”.

As desigualdades estão presentes em diversas esferas da sociedade. Ainda que sejam mais da metade da população brasileira – 51,3% segundo o IBGE, a maior parte do eleitorado brasileiro – 51,8% de acordo com TSE, e quase a metade da população economicamente ativa - 49,7%  pelos dados de 2009 do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), as mulheres ainda são pouco representadas no cenário político, nas instituições públicas e privadas, e ainda precisam lidar com a enorme desigualdade de salários entre homens e mulheres e a falta de oportunidade para elas.

Pensando nisso, o Projeto Celina lançou uma série de posts sobre a equidade de gênero e como os homens podem, por meio de atitudes e posicionamentos no cotidiano, combater o machismo na sociedade.

Agir pelo fim da violência contra a mulher

O Ministério da Saúde registra que no Brasil a cada quatro minutos, uma mulher é agredida por ao menos um homem e sobrevive. Em 2018, foram registrados mais de 145 mil casos de violência —física, sexual, psicológica, dentre outros tipos— em que as vítimas sobreviveram.

Em quase todos os casos de violência, o agressor da mulher é uma pessoa próxima: pai, padrasto, irmão, filho ou, principalmente, ex ou atual marido ou namorado. É em casa onde as mulheres são, na maioria das vezes, agredidas: 70% dos casos ocorrem em residência.

Parar de falar “eu ajudo em casa”

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres dedicam quase o dobro do tempo dos homens a tarefas domésticas. Em 2018, elas trabalharam, em média, 21,3 horas por semana realizando esses serviços, enquanto os homens dedicaram apenas 10,9 horas.

Quando realizam esses afazeres, muitos afirmam estar "ajudando em casa", o que contribui para a ideia de que essa seria uma função feminina.

Reconhecer o exercício da paternidade como papel masculino

Quando homens cuidam dos filhos ou passam tempo com eles é normal ouvir elogios e reações de surpresa e exaltação. Por outro lado, quando os cuidados são exercidos por mulheres, essa atitude é considerada normal e apenas uma "obrigação".

“Precisamos pensar sobre o que essa expressão ‘ele é tão bom pai’ significa. Quando vemos mulheres saírem do mercado de trabalho e irem cuidar dos seus filhos, a sociedade considera que é o que a mulher deve fazer. Agora, quando os homens vão tirar uma licença paternidade é um espanto. É preciso estranhar nossos espantos com algo que deveria ser esperado de todos os homens. Ele está só exercendo a paternidade”, diz a antropóloga Debora Diniz.

Respeitar mulheres em posições de poder e em espaços majoritariamente masculinos

As mulheres cada vez mais ocupam posições de poder ou espaços que antes eram dominados pelos homens. No entanto, elas nem sempre são respeitadas nessa condição, muitas vezes têm sua capacidade questionada ou suas falas desmerecidas.

“Precisamos que os homens reconheçam mulheres em relação de poder e consigam trabalhar com elas dessa forma. Quando digo relação de poder me refiro a todos os níveis de trabalho, desde mulheres no poder doméstico até as que são chefes de empresas, o que chamamos de 1% no feminismo. Para os professores, principalmente em áreas de tecnologia e ciências exatas, é preciso reparar em como se comportam em relação às alunas mulheres e de que forma reagem às suas observações”, sugere a antropóloga.

Reconhecer e abrir mão de privilégios

Reconhecer seus privilégios e abrir mão deles é um ponto essencial para homens que querem contribuir para a equidade de gênero. Essa é uma tarefa difícil e incômoda, mas necessária para que qualquer mudança possa acontecer.

“É preciso que os homens façam uma pergunta para si mesmos: onde os privilégios do machismo me beneficiam? Onde está a expressão do meu machismo? No trabalho, em casa, na rua, na forma de entrar em uma relação amorosa com mulheres e na forma de cuidar dos filhos”, propõe Diniz.

 

Texto: Ana Carolina Vasques com informações do site O Globo e Projeto Celina.

Imagem: Marketing Assecom